quarta-feira, 21 de abril de 2010

"Tão sublime sacramento"






Que agente só dá valor quando perde isso todo mundo já sabe. Ou de ouvir os outros contar seus causos ou de nós mesmos vive-los, eu tenho uma série de historias desse tipo, a mais fabulosa e enriquecedora de todas é aquela que você tem a oportunidade de voltar atrás, de recomeçar, zerar tudo e fazer um novo começo ou um novo fim como dizia Chico Xavier.  Recentemente passei por algo desse tipo e puder aprender uma lição que levarei para toda a vida e da qual faço questão de relatar.

   
Eu sempre tive Deus na minha vida muito antes dela ser consumada, ele sempre esteve presente mostrando-me a direção certa a seguir, e a única coisa que ele me pede é “Vem e segue-me”, e eu o segui deste muito cedo, a principio levada por meus pais depois com meus próprio passos. Mais era mulher de pouca fé assim como Pedro que seguia Jesus mais não foi capaz de andar sobre as águas quando este o convidou. Acomodei-me na posição típica do “eu já o tenho e isso me basta” e foi com esse pensamento que acabei perdendo o que tinha de mais precioso e que só depois da perda passou a ter tanto valor aos meus olhos. Quando uma relação cai na rotina o fim está anunciado, porque tudo muda apesar das coisas serem as mesmas é como se você as visse mais não as notasse.

   Você deve está se perguntando mais afinal o que aconteceu?Deixe-me contar...

   Sempre fui católica, praticante mesmo, de ir à missa e colocar-me a serviço de Deus.

   Ainda bebê fui batizada e logo depois comecei a freqüentar as aulas de catecismo preparando-me para a primeira comunhão, um tempo depois estava eu com meu vestido rosa bufante toda feliz recebendo cristo na eucaristia. Caso não saibam este é dos momentos mais importantes na vida de um cristão, porque a hóstia significa o sacrifício vivo que Jesus fez para lavar nossos pecados com seu sangue, dando-nos o seu corpo como oferta, por isso o mínimo que podemos fazer é recebê-lo com todo nosso amor e respeito.

   Lembrando-me dessa época percebo que o que fez esse momento especial foi que pra mim ele era mais um premio por anos intermináveis de catequese, eu ainda estava bem longe de saber o que aquele momento representava, todos os anos de catequese toda a teoria não surtiu efeito na pratica.

   Anos mais tarde passei de catequizana a catequista, agora eu não só ouviria falar de Deus mais como eu mesmo falaria dele e ainda seria exemplo para um grupo de crianças que assim como eu estavam iniciando na catequese. O legal dessa época é que as acompanhei desde o primeiro ano até o dia em que assim como eu elas também comungariam e juntos fomos amadurecendo. Senti-me muito orgulhosa, eles eram meus “primeiros frutos”, mais nem aquela celebração foi suficiente para retirar a venda da rotina que me cegava. Muitas vezes na vida temos a impressão que conhecemos as coisas, sabemos seu significado, sua importância, convivemos com elas como se sempre existissem, como se fizessem parte de nós e não precisassem mais de nossa atenção ou do nosso cuidado.
   

Houve ainda uma época em que fui acolita a famosa coroinha, aquele que auxilia o padre na missa, dentre de todas as minhas funções estava pegar as galhetas, o cálice, a ambula e colocar no altar para serem consagrados, eu via a hóstia bem de pertinho, principalmente quando o padre a erguia e eu ficava cara a cara com ela, eu sabia que ali era o próprio Cristo e eu o olhava fixamente, neste momento sinto-me como num desses dias e noto claramente o quanto eu estava cega eu enxergava tudo na minha frente menos Jesus, aquilo era mais um ritual do que uma celebração.

   O tempo passou a idade pesou e as escolhas também, chega um momento na vida que agente fecha etapas começando outras, a igreja movia a minha vida de uma forma em geral, mais isso foi só ate eu fazer novas descobertas, ter outros tipos de opção e de escolhas. E por um motivo em particular eu decide que não comungaria mais, daria “um tempo”, assumiria um outro tipo de responsabilidade da qualquer acreditei esta preparada. É importante e necessário voar mais alto, desbravar outros mundos, lançar fora a mesmice, da oportunidade as novidades, garanto que embora o resultado seja positivo ou negativo você terá um aprendizado eterno. Mais uma hora ou outra agente para e se pergunta: “Valeu à pena?” E você percebera que isso vai depender da situação, do momento, o novo é legal, diferente, mais o velho também fez parte de você, de sua historia dos seus princípios, deve ser por isso que apesar da modernidade algumas tradições permanecem.

   Outras vezes percebemos que por mais que agente pense, repense e considere-se pronta para certas escolhas a pratica perpassa a teoria e só assim vemos que a realidade é bem diferente da fantasia e que responsabilidade na ação é muito diferente que na imaginação. E ainda que certos conselhos são de ouro apesar de dizerem que se fosse bom agente vendia, na real eles são, mais se os seguimos veementemente sem questioná-los poupam-nos de por a mão na massa e de sentir a sensação de tocá-lo e só assim os conselhos são importantes porque foram comprovados na pratica, sentidos na pele.

   Fiz minha escolha não me arrependo, ela foi especial, mais vejo que ela foi apenas um pretexto para a grandiosidade que estava por trás de tudo aquilo, só com ela pude perceber e sentir a necessidade e a falta que Deus fez na minha vida e creio que eu precisava dessa “sacudida”. É engraçado quando agente faz algo de “errado” (as aspas simbolizam a ambigüidade que quis  usar neste contexto, pois esse “errado” depende mais de um ponto de vista pessoal), não precisa que ninguém te julgue ou te diga nem mostrar que errou se você tiver consciência ela mesmo fará esse papel e te seguira aonde quer que você vá.

   Depois de ter passado por outros grupos voltei à catequese e nessa época as coisas ficaram pesadas e muito me atormentaram, parecia que tava estampado na minha cara o que eu tinha feito! Pra onde eu ia escutava dizer: “A comunhão é aparte mais importante da missa sem ela a celebração fica incompleta”, aquilo era uma mensagem implícita que me atingia bem no alvo, eu sabia daquilo mais agora as palavras pesavam toneladas, eu olhava a fila da comunhão e baixava a cabeça sentia-me triste porque sabia que faltava eu ali, eu via o vazio convidativo. E pra completar as crianças me perguntavam: “Tia por que a senhora não vai comungar?” (crianças espertas, até demais pro meu gosto,rsrs..), e eu dizia: “Porque eu fiz uma coisa errada e não posso comungar”, todo domingo era a mesma pergunta e a mesma resposta e o mesmo sentimento de ebulição dentro do meu corpo, eu sabia que enganava aquelas crianças( Que Deus me perdoe) ensinando uma coisa e fazendo outra, preparando-as para a comunhão com Deus sendo que nem eu mesma estava em comunhão com ele, a resposta mais verdadeira que eu podia dá a elas era “Não comungo porque sou uma idiota, pecadora que dá uma de certinha pra vocês, que é o modelo que vocês devem seguir mais que não serve de modelo pra ninguém nem pra mim mesma!”.

   Tudo aquilo junto me fazia e me deixava muito mal, eu não era mais a mesma, a missa não era mais a mesma, e eu a vida e a missa estávamos incompletos do jeitinho que eu escutava! A vida seguia em frente e eu sabia que precisava fazer algo mais confesso que não fiz muito, tentei, sei que isso é um primeiro passo mais não é o suficiente, e todo dia eu me dilacerava me sentia literalmente entre a cruz e a espada. E o que eu não fui capaz de fazer por vontade própria a vida me fez fazer por vontade forçada, eu não fui obrigada, sempre tive o poder da escolha mais quando agente sabe o que é melhor não tem como fugir dele.

   Passei um bom tempo reflexiva, coloquei tudo numa balança e todo dia media ambos os lados, a oferta de um retorno me foi oferecida caberia a mim escolhe-la, mais queria que meu retorno fosse triunfal, verdadeiro, sabia que tinha errado mais também sabia que naquele momento a possibilidade de concerta me era dada e eu não podia errar na escolha e na forma de fazê-la, e tudo aquilo me levou ao centro, ao ápice ao inicio de tudo, que partiu de mim e pra mim voltava.

   Um novo tempo surgia, Deus viu a minha queda mais naquele instante estava bem a minha frente estendendo-me a mão, e eu não tinha como não aceitar aquele convite porque só eu sei como ansiava por ele, e assim hoje eu vivo e testemunho a eucaristia de uma outra maneira, antes éramos separadas, distintas, isoladas, agora somos um só, parte integral de um mesmo corpo o “Corpo de Cristo”. Testemunho só é testemunho porque alguém foi lá, viveu, presenciou, aprendeu, sentiu, testemunhou e voltou pra contar, ele é a prova vida do que aconteceu. E o sensacional é isso, reconhecer a falha, mudar e voltar pra testemunhar que erros acontecem mais mudanças transcendem.

   Sinto-me pertinho de Deus na verdade ele está em mim e eu nele, voltar a comungar foi como a primeira vez, agora mais madura e consciente da importância daquele pedacinho de pão mais que tem uma valia imensa, finalmente sinto-me completa.

   Para o meu encontro com Deus escolhei a data mais importante para a igreja, a época em que Jesus se fez eucaristia e que relembramos todos os anos, Cristo morreu mais ressuscitou e naquele dia eu vi-me ressuscitando junto com ele, renascendo para uma nova vida, para uma nova historia onde eu e Deus somos os personagens principais.

   Confesso que cheguei a pensa que ao colocar a hóstia na boca ela se transformaria em sangue ou coisas desse tipo (imaginação fértil a minha), não sabia mais como posicionar as mãos (falta de pratica) mais é como andar de bicicleta uma vez que você aprende não esquece jamais. Nada aconteceu, a hóstia continua a mesma, o sabor também é o mesmo (se é que ela tem sabor) mais algo estava diferente, EU!

   Deus conhece cada fio do nosso cabelo, nenhum grau de areia se move sem seu consentimento, Deus sabia que pecadora eu seria, mais mesmo assim colocou-me no mundo e me deu o livre arbítrio de escolher entre o bem e o mal, e mesmo quando escolho este ultimo ele me da a chance de voltar atrás, e é nos caminhos tortuosos que agente reconhece que perdeu-se, desviou-se, saiu da linha e precisa voltar.
  
Muitas vezes agente julga as pessoas que vem com papinho bonito depois de ter feito uma serie de besteiras, eu já fiz muito isso porque no fundo soa falso, mais é isso que nos difere de Deus, ele sofre quando erramos porque nos vê sofrer, quando admitimos a falha ele acolhe, aconselha e perdoa, zera o cronometro e não fica jogando na nossa cara, “Você errou, CUIDADO pra não pisar na bola de novo!”, quem faz isso são os outros e a nossa consciência, se ele perdoa, perdoa de coração, pra valer e acredita verdadeiramente que agente não vai mais errar, ele não nos acusa porque mais uma vez a escolha é nossa, inteira responsabilidade.

   Uma série de hábitos afastam de nós a hóstia, por mais que agente comungue esta mais se condenando do que salvando-se, o mínimo que agente pode dá a Deus é o respeito por tudo aquilo que ele fez, se agente não dá o valor que precisa também não precisa banalizar. O que adianta comungar se eu não vivo em comunhão com meu próximo se eu não partilho, se eu não faço a multiplicação dos pães diariamente. Em seus momentos finais Jesus estava rodeado dos amigos de quem tanto gostava e com os quais quis celebrar aquele momento, não excluiu nem mesmo quem o trairia, nem quem o negaria três vezes.

   Muitas pessoas comungam todos os dias, mais poucas são agraciadas com o dom de saboreá-la gradativamente, sentir a sensação das partículas se dissolvendo e sendo absorvidas pelo corpo e principalmente pela alma.

   E a prova maior de que tudo isso já estava escrito, e que este ano faz exatamente uma década que Cristo habitou pela primeira vez a minha vida, e o meu coração tornou-se uma sacrário vivo, e justamente ao escrever está crônica fui buscar informações sobre minha 1º Eucaristia e percebi a fabulosidade que a vida nos proporciona muitas vezes,  e que algumas pessoas chamam de coincidência(breve uma crônica sobre esse assunto).

   Como canta Roberto Carlos: “Eu voltei, agora pra ficar porque aqui, aqui é meu lugar”. Tudo bem que pra chegar a essa certeza foi preciso uma dose de sofrimento, que eu ingeri sentido cada gole de seu amargo, mais que eu beberia quantas vezes fossem preciso para deixar que a venda dos meus olhos caíssem e eu pudesse enxergar o tesouro que sempre esteve bem à frente dos meus olhos e eu não conseguia ver.




Menina dos olhos de Deus

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