Estréio nesta última sexta-feira nos cinemas de todo Brasil o tão aguardado filme “Bruna Surfistinha”. Como todos já sabem o filme conta a história da ex-garota de programa Raquel Pacheco e foi baseado em seu Best Seller (se é que posso usar esse termo) “O doce Veneno do escorpião”. Eu já havia lido o livro há alguns meses atrás, e o que me chamou atenção na história toda não foi a maneira que ela descreve seus “programas” (fracamente isso pra mim pouco importa), mais sim como a mesma encarou sua condição de “adotada”. O mais difícil em sua vida pelo que parece não foi ter que transar com homens de todo tipo e espécie mais sim ter que viver com a situação de não ser criada por seus pais biológicos.
Raquel pertencia a uma família de classe média, criada com mordomias, boa educação e amor daqueles que lhe escolheram como filha, pra ela nada justifica um pai abandonar um filho e foi justamente esse abandono que causo-lhe um vazio, um vaco que nem mesmo o sexo foi capaz de preencher.
Ela sentiu que aquele não era o seu lugar e foi em busca daquilo que lhe daria prazer, independência e uma vida nova: A prostituição. Deixou para trás a família e correu o risco por si só de ir atrás de suas respostas.
Bruna gostava de sexo, e juntando o útil ao agradável, conheceu um novo mundo, conheceu vários homens (e mulheres), várias historias, vários dilemas, várias fantasias... conheceu o dinheiro, a fama, as drogas e também o “homem de sua vida”. Hoje ela sonha em ser mãe e psicóloga, dois desafios bem grandes pra bagagem que ela carrega.
Ela não se arrepende de nada, creio que nem deveria afinal foi uma escolha consciente de sua parte, mais há algo que Raquel teve e que na época não era suficiente mais hoje lhe é crucial, o amor dos pais. Ela pode deixar de ser prostituta, mais não o motivo de desgosto dos pais.
Seus medos e traumas ofuscaram sua consciência e lhe fizeram provocar nos outros a dor que até então só ela carregava. Ela se sentia abandonada, e por fim resolveu se abandonar...
Não gosto da Débora Seco como atriz, mais tiro o chapéu pra sua atuação no filme. Ser prostituta tem seus altos e baixos, elas podem até ganhar muito dinheiro em uma só noite, mais a vida não é tão fácil quanto parece, eu mesma vos digo que não consigo me imaginar transando (ou apenas ser tocada) com vários homens ainda mais de várias formas, estilos e condições e isso inclui tanto o papel de Bruna Surfistinha como de Débora Seco. Certas cenas no filme me causaram repulsa.
Vendo uma entrevista de Raquel a Maria Gabriela quando indagada sobre Bruna por Bruna a mesma respondeu: Corajosa! Pra mim isso é inquestionável, por que fazer o que ela fez se não for coragem é loucura.
Não sei se já disse aqui, mais eu sou filha adotiva, fui adotada desde bebezinho e já cresci sabendo disso. Fui criada com amor, atenção, cuidado e igualdade e isso foi fundamental pra mim aceitar bem a minha condição. É estranho, mais apesar de saber que as coisas são assim eu não consigo me ver fazendo parte de outra família senão a minha (mesmo com nossos desentendimentos). Odiei de coração meus pais biológicos (isso foi uma fase), me senti vitima por ser abandonada e assim como Raquel também não vejo nada que justifique tal atitude. Também tive meus medos, dilemas, depressões, vontade de fugir de casa mais três coisas são certas: 1- Nunca me vi indo procurar meus pais biológicos, 2- Nunca me vi fazendo programa (seja por vontade ou necessidade), 3- Nunca e jamais culparia meus pais de criação por ter sido abandonada, ou pela minha condição de adotada.
Pelo contrario tudo que sou e tenho devo a eles, agradeço todos os dias por alguém ter tido a coragem de me criar e assumir o papel de meu pai, minha mãe e meus irmãos, gerar uma criança não é o mais difícil isso pode ser pra maioria, adotar e criar um filho é pras exceções.
Hoje não posso dizer que nessa historia haja vitimas ou culpados, mais seja como for se há alguém que merece minha gratidão eterna é minha família de coração. A eles todos meus agradecimentos. Tive minhas fases de rebeldia, mais boas ou ruins enfrentei tudo junto a eles.
Sabe aquele lance de ”há é porque é filho adotivo”? Talvez isso exista porque essa condição implica muita coisa, muita responsabilidade, mais desagradar, errar e causar problemas é algo que qualquer filho (adotivo ou não) está exposto, fosse assim todos os assassinos, ladrões, psicopatas, pedófilos e prostituas seriam adotados.
As pessoas podem até fazer essa separação, podem até te classificar como filho adotivo mais se você aceita e vive bem com essa situação não há nada nem ninguém que lhe coloque pra baixo, lhe faça sentir excluído ou lhe faça viver atormentado por medos e situações mal resolvidas, o importante é que você não faça essa separação, antes de qualquer coisa você é um ser humano.
Entendo que não é fácil aceitar tudo isso, cada um reage como convém e muitas vezes da pior maneira ( Bruna Surfistinha que o diga!). Mais se um dia você foi abandonado, rejeitado, discriminado, classificado, rotulado ou estigmatizado pelos outros não precisa você também fazer isso consigo mesmo, as coisas só nos afetam se nos deixarmos afetar.
E isso foi algo que aprendi com o tempo, com lagrimas e dores, mais também com paciência e persistência, por isso ser corajoso não é só sair de casa e virá garota de programa mais também encarar de frente os problemas e procurar uma maneira de resolve-los e isso pede alem de coragem, sabedoria.
Olhando a Raquel sinto pena, é como se tirando a Bruna Surfistinha ela não fosse nada a não ser um oco frio e vazio que só será realmente preenchido com a aceitação e o perdão dela mesma e dos pais. E de coração eu desejo que isso aconteça, até por que um dia ela também será mãe, terá uma família e só ai verá o tanto de responsabilidade que isso implica e o tanto de desafios que com coragem precisam ser vencidos.
Menina dos olhos de Deus
Oi! Gostei do seu texto em vários pontos, um deles diz respeito ao seu carinho em relação a família que Deus te deu.
ResponderExcluirOlha, COMER, REZAR, AMAR está comigo. Passa aqui pra gente trocar. beijos