Indignada! É assim que me sinto quando alguém tem a ousadia de afirmar que eu “não sei o que é sofrer, porque tive uma vida boa e uma mãe que me desse tudo”. Meu sangue ferve nas veias e se pudesse faria tal pessoa engolir suas palavras, e ainda lhe diria uns bons desaforos.
Graças a Deus tenho uma vida boa sim, e quando uso o termo “boa” me refiro a tudo que vive, aprendi e que aos poucos luto para conseguir, o fato de não ter passado fome, de não ser obrigada a trabalhar cedo e de poder me dedicar aos estudos também é uma boa mais não é o único fator determinante de minha vida, se para algumas pessoas o dinheiro é tudo eis que para mim não. Se muitos consideram que pra ser feliz é preciso ser rico e ter bens materiais e pobre é o contrario disso, vejo que ainda não sabem do “terço a metade” vejo que para abandonar o espírito de porco que possuem ainda falta muito.
Não sou senhora da razão, nem quero ser, todos os dias peço a Deus sabedoria para fazer as coisas certas, para fazer aquilo que ele espera de mim, porque tudo que sou e tenho é dele, sei que o dinheiro é necessário e na maioria das vezes indispensável mais para mim o tudo é Deus, porque muitas coisas passam mais só ele fica e essa lição eu jamais esquecerei e ainda repetirei quantas vezes forem preciso.
Sei que a dor que sinto no estomago quando estou com fome não se compara a dor daqueles que não tem nada no prato, sei que é só abrir a geladeira e pegar algo pra comer, mais e aqueles que nem geladeira e nem comida têm?Posso imaginar a dor, o sofrimento que seja, mais devo admitir que sentir realmente eu nunca senti, porque só sabe quem passa, imaginar estar num segundo plano.
Posso não ter passado por este tipo de dor mais já passei por tantas outras, e não é o fato de ter uma mãe que me dê tudo que vai me poupar de sofrer, existem vários tipos de sofrimento cada um tem o seu, ricos, pobres, jovens, velhos...
Alguns sofrem porque não têm o que comer, outros porque comeram demais e provocam o vomito da culpa, do medo de engordar e de parecer graxo diante da sociedade que estipula um padrão a se seguir. E ai isso não é sofrimento? É moda? Falta do que fazer? De se preocupar com o que realmente interessa?
Cada pessoa dará uma resposta diferente, uma resposta que se baseie na sua moral, na sua opinião pessoal e particular, e por existir opiniões diferentes é que devemos aprender a respeitar o pensamento e o sentimento alheio antes de sair rotulando o que é ou não sofrimento, precisamos compreender que além do nosso mundo existe tantos outros. Todos temos nossas limitações, nossos medos, mazelas, alguns sofrem por menos outros por mais...
Minha mãe é uma lutadora, herdou isso de vovó e também quis nos dá essa herança, hoje tem tudo o que quer e precisa, o necessário para ser feliz e viver bem, muitas vezes abriu mão de coisas caras e bonitas para guardar um dinheirinho para as necessidades mais urgentes. Nunca nos cobriu de ouro, mostrou a nós que há coisas bem mais valiosas a simplicidade é uma delas e se há alguém simples nessa vida devo dizer que uma delas é mamãe.
Saiu da roça para a direção de uma escola não formou-se numa universidade mais graduou-se na escola da vida. Tudo que conseguiu foi fruto de seu trabalho de seu suor diário, nos proporcionou uma parte do que é dela para termos o nosso. Desde muito pequena soube fazer essa separação, usufruir das coisas tendo-as apenas como base para ter as minhas. Com sua generosidade compartilhou tudo que tinha conosco, e nós fazemos isso com os demais, logo será com nossos filhos e sempre haverá o dia em que cada um caminhará com suas próprias pernas.
O que minha mãe tem é dela, não meu, meu é tudo aquilo que conseguir com o fruto do meu trabalho, eu ainda não tenho nada mais aos pouquinhos eu chego lá, não vivo resmungando por ter mais ou por ter menos, não me sinto melhor nem pior do que tem menos muito menos por quem tem mais, o bem mais valioso Deus me deu e foi à vida e essa é a chave que abre todas as portas.
Não escolhemos em que famílias iremos nascer, não decidimos se ficaremos numa família que tem carro ou em outra que tem bicicleta ou ainda em uma que só anda a pé. Mais escolhemos o que fazer com nossa vida a partir disso, você pode viver acreditando que terá sempre um carro e um belo dia se vê a pé ou estando a pé um dia dirigir um carro muito mais que sorte isso é questão de decisão, de ir a lutar para manter o que têm ou de querer ainda mais, ou de não ter nada e continuar no zero. Se as oportunidades não vem vá você até elas.
Garanto que ganhará muito mais do que se fazer de coitadinho e sair por ai dizendo que você tem menos e outros mais. Que você teve que trabalhar desde cedo enquanto outros ganham as coisas caindo do céu, vá as favas você e seu discurso hipócrita. Viva sua vida, e procure mudar aquilo que te desagrada, agradeça a Deus por aquilo que te deu e peça coragem e sabedoria para buscar o que ainda não tem, pois é isso que faço todos os dias.
Quando menor vivia chateada com Eliana – para quem não sabe minha irmã gêmea e que viveu quase vinte anos longe de mim –, alguns fins de semana eu ia visitá-la mais nunca ficava pra dormir sempre voltava no mesmo dia para Bacabal e isso era motivo pra’ela julgar que eu não o fazia porque “era pobre e eu rica”, apesar de ainda não saber direito o que era indignação mais creio que desde então era isso que sentia, havia outros motivos por trás de tudo aquilo e que nem sempre cabiam a mim, e vos garanto que nem um deles dizia respeito à pobreza ou riqueza, e com esse comportamento ela me afastava cada dia mais.
Creio que com a idade, o entendimento e com o tempo que passamos juntas ela amadureceu e percebeu que pobre é aquele que não ama e apesar de minha dureza eu a amo como um pedaço de mim.
Admito, sou vaidosa gosto de coisas boas - não exatamente caras – quando estou no clima gosto de andar bem arrumada usando aquilo que me faz bem, gosto daquilo que me proporcione conforto, prazer, mais e quem não gosta? Pra isso não é preciso ser rico ou pobre afinal há tanta gente ostentando uma roupa de grife um carro do ano um computador de ultima geração e um cobrador à porta exigindo o que lhe devem.
E a todos que um dia me disseram que “não sei o que é sofrer, porque tive uma vida boa” eu vos respondo: - Sou rica, riquíssima e realmente não sei o que é sofrer!
Primeiro porque sou filha de um rei, que me deu de presente o seu reino e todas suas riquezas ele fez o mundo pra mim, por mim ele deu a vida e nas dificuldades é só clamar que ele vêm. Segundo eu não conheço a palavra sofrer conheço purificar, amadurecer, transformar, aprender é isso que acontece comigo após cada dificuldade que enfrento. Como dizem os mais velhos: “Sou rica das graças de Deus” é essa riqueza que quero e que cada dia luto para conseguir e se tenho Deus na minha vida porque sofrer?A quem temer?
Sou rica de historias, de aprendizagens, de vivencias, de problemas, de dificuldades, de alegrias, de hematomas, de julgamentos daqueles que acham que me conhecem e que por isso acreditam que podem me dizer qualquer coisa, mais principalmente sou rica de amor e por isso perdoou a que me tem ofendido.
“Ajuntem riquezas no céu, onde nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não assaltam nem roubam. De fato, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração”
(MT 6, 20-21)
Menina dos olhos de Deus
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