domingo, 8 de agosto de 2010

"Minha primeira vez: O assalto".

 Nunca fui Assaltada!

Sorte?Sim e muita!

Mais sempre tive consciência que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria, imaginava que quando minha hora chegasse jamais reagiria, daria tudo o que tinha e só pediria a Deus que minha vida fosse poupada.

Vivemos num mundo violento e ficar falando sobre isso sem fazer nada é perca de tempo, a maior prova disso é a crescente criminalidade, que só aumenta e torna nossos destinos cada vez mais incertos e inseguros. Nossas janelas ganharam grandes, vislumbramos o horizonte marcado por barras de ferro, e vivemos o receio de mais cedo ou mais tarde ser mais uma vitima na multidão.

Hoje mais uma vez a palavra “nunca” deixou de fazer sentindo em minha vida, e neste momento acrescento a minha lista de “1º vez” um assalto, experiência primeira e indescritível. Graças a Deus nada de mal aconteceu a mim e nem as outras pessoas envolvidas, foi tudo muito rápido, prolongando mesmo só o medo, estampado em cada rosto que ali se encontrava, atônita acompanhei cada passo de onde estava e a sensação era a de um filme rodado em câmera lenta, com direito a muita ação. Fui testemunha ocular e nenhum movimento passou-me despercebido.

Vi claramente quando a assaltante percorreu todo o ônibus, pulou a catraca e anunciou o assalto com uma faca na mão, isso foi o suficiente para ejetar adrenalina e pânico na corrente sanguínea das pessoas, que apressadas tentavam o mais rápido fugir dali, todos ao mesmo tempo gritavam e apressados seguiam deixando o que fosse para trás deste que isto não fosse à vida.

Eu por minha vez fui a ultima a sair e só o fiz quando tive certeza que um simples passo não colocaria tudo a perder. Notei que todos procuravam uma direção segura para refugiar-se e quando preparava-me para fazer o mesmo vi uma mulher ao chão que com a pressa acabou caindo, junto dela duas meninas, suas filhas creio eu.”Nunca as vi mais gorda”, éramos todas desconhecidas, mais aquele instante nos fez igual, éramos todas vitimas, todas no mesmo barco e esta semelhança tornou-se para mim a razão de permanecer ali, era impossível seguir em frente sem ao menos levá-las comigo, estava tão indefesa quanto elas, mais uma vez que a consciência acusa não tem jeito, a saída é confiar e prepara-se pro que dê e vier.

Ah consciência danada ou tu me levas para o céu ou me matará mais depressa.

Sinto em decepcionar-lhes mais estou longe de ser uma heroína, tudo o que fiz foi impulso, sem pensar, emoção e razão tudo junto e misturado, a vida clamava urgentemente por socorro, e num momento assim tudo o que se quer e precisa é “uma mão amiga”.

O que mais me assustou nisso tudo não foi o assalto propriamente dito, mais a reação das pessoas, que nesse instante é a pior de todas, entendo que nesse momento o desespero assume o controle, a calma se faz necessária, mais quem se lembra dela nessa hora?

E a SOLIDARIEDADE? Alguém a viu por ai?

O ditado “É cada um por si e Deus por nós” cai como uma luva aqui, não há tempo para pensar no outro, se a vida dele custa a minha porque eu tenho que pagar a conta? O importante é meu bem-estar, minha segurança, do outro Deus toma de conta.
Egoísmo?Talvez! Prefiro acreditar que o medo da morte mova tal atitude e a justifique.
Mais sem modéstia não sei se me sentiria bem sabendo que enquanto eu dormia em paz aquelas crianças choravam a morte da mãe ou o contrario.

Ninguém quer morrer apesar de finito ser nosso destino deste a maternidade.

A vida humana banalizou-se, mais basta ela ameaçar partir e nós lutamos até o fim para que ela fique. Se para isso fazemos do outro escudo é um detalhe que ninguém precisa notar, mesmo que assim tudo seja mais doloroso, cruel e desumano.

Estive pensando, Porque a maioria dos super-heróis é imortal?Qual o segredo? Suas fantasias mirabolantes? Seus nomes esquisitos?
Para alguns a ciência deu uma mãozinha, mais o que os torna verdadeiramente super-poderosos chama-se CORAGEM.

A mesma que todos temos escondida no côncavo da alma, e que nas situações mais adversas brotam do intimo.

Heroísmo é acima de tudo lutar com coragem, viver sem medo do amanhã e principalmente AMAR ao próximo. Pois a vida ACABA mais as ações ETERNIZAM-SE.

Menina dos olhos de Deus


Um comentário:

  1. Não concordo quando diz não ser heroína por ter feito tudo no impulso misturando razão e emoção. Sua atitude fez sim de você uma heroína, como muitos, muitos que deveriam ser mais porque se todo impulso resultassem em atitudes como a sua o mundo seria beeem melhor. Sem esquecer que você é uma das pessoas de mais coragem que conheço, principalmente coragem diante da vida.

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